Pular para o conteúdo principal

MAIS MULHERES FORAM ASSASSINADAS DO QUE DETENTOS EM PRESÍDIOS DO MA


"A opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem." Karl Marx.

Um verdadeiro absurdo o que vem acontecendo no Estado do Maranhão. Dados preliminares do próprio governo do estado revelam que o número de mulheres mortas de forma violenta é superior ao de detentos assassinados no sistema carcerário no Maranhão. E o mais alarmante é que este levantamento é referente ao período compreendido entre janeiro do ano passado a 25 de fevereiro deste ano.

As informações preliminares da Secretaria Estadual da Mulher ( SEMU ), revelam que foram 54 os homicídios em delegacias e presídios do estado, contra pelo menos 62 casos de mulheres brutalmente assassinadas. O estudo foi iniciado em 2008 para traçar o perfil da violência extrema contra a mulher. Segundo Catharina Bacelar, Secretária da Mulher, a ideia de fazer o estudo veio a partir da incipiência de dados relativos à violência sofrida pelas mulheres.

O estudo deverá atender não só a carência de dados como desenhar o mapa da violência contra a mulher no Estado. Para tanto, as informações estão sendo organizadas a partir das áreas e cidades onde ocorreram os crimes.O que se observa na verdade é o completo descaso dos governantes maranhenses com a situação das mulheres, desde Sarney (1965-1970) à Roseana ( 2010 – 2014). O estado já teve 11 governadores eleitos e ao longo destes anos, o que se verifica efetivamente é a falta de políticas públicas, voltadas a atender a população trabalhadora, em particular as mulheres.

A Secretária reconhece que falta uma base ou plataforma que reúna estatísticas de delegacias, hospitais e outros órgãos de escuta das vítimas. Por outro lado, sabe-se que a sociedade negligência quando não denuncia, talvez alguns não saibam que agindo assim compactuam com os algozes e existe ainda o próprio silêncio por parte de quem sofre a agressão. Para este ano, há a previsão da implantação da Ouvidoria da Mulher, primeiro serviço de escuta de vítimas mulheres por telefone do país. As políticas públicas desenvolvidas pela secretaria estão sendo implantadas, ainda de forma incipiente. São palestras sobre a Lei Maria da Penha, realizadas nos municípios, onde homens e mulheres formam a plateia.

A pesquisa em andamento confirmou a necessidade de incluir o homem na discussão. Porque mais de 25% das mulheres foram mortas de forma brutal, fruto de ciúmes ou não aceitação do fim do relacionamento, por seus parceiros. Catharina constatou a gravidade do problema, quando afirmou que não adianta orientar as mulheres a abandonar parceiros violentos, se o Estado não dá segurança a elas.

Grande parte dos agressores no Maranhão são lavradores. A mulher do campo é muito mais vulnerável a violência que a mulher urbana. A secretaria deverá difundir a Lei Maria da Penha entre as trabalhadoras rurais, mostrando que a legislação prevê penalidades não só à violência física, como psicológica, moral e patrimonial.

Nas escolas a Lei Maria da Penha virou cordel, distribuído nas escolas. O objetivo é conscientizar as crianças e esta é a única forma de erradicar uma cultura de aceitação e naturalização da violência contra o sexo feminino. O problema é que nem todas as escolas receberam os exemplares. E tem mais, como trabalhar esta problemática em sala de aula? O que pode fazer uma professora, de qualquer nível da escala educacional, se ela própria é violentada? O que pode ensinar um professor que é um violador? O que pode fazer a escola se estiver desligada de um processo de transformação cultural, quando não consegue incorporar no planejamento político pedagógico a comunidade escolar?

A Semu tem capacitado policiais sobre a Lei Maria da Penha no sentido de prepará-los para o acolhimento humanizado de mulheres vítimas de violência. Enquanto isso, faltam delegacias especializadas para oferecer um atendimento específico para mulheres vítimas de violência, na maioria das cidades maranhenses. E a violência e os assassinatos de mulheres continuam sendo uma cruel realidade, apesar destas iniciativas.

O fato é que realmente houve um aumento nos homicídios de mulheres no Brasil. De acordo com o Mapa da Violência elaborado pelo Ministério da Justiça e divulgado na quinta-feira, dia 28 de abril, a violência contra a mulher não apresentou nenhuma queda nos últimos dez anos. Os casos de agressão não apenas não diminuíram como aumentaram.

Estudos comprovam que a violência contra a mulher é um fenômeno transversal que atinge mulheres de diferentes classes sociais, origens, regiões, estados civis, escolaridades ou raças. Mas o que prejudica a implementação destas políticas públicas, efetivamente, muitas das vezes, são as divergências político-partidárias. O grande desafio é que os municípios e Estados assinam por vontade própria o acordo de implementação, mas muitos gestores podem não estar assinando tal acordo por não concordarem com as políticas governamentais da gestão atual.

É bom lembrar que a Presidenta Dilma Rousseff afirmou que iria combater a violência contra mulher, fortalecendo a Lei Maria da Penha e que os mecanismos de proteção à mulher seriam prioridade em seu governo. Interessante. Os cortes orçamentários nas verbas para a Secretaria de Políticas para as Mulheres demonstram certa contradição.

Concluindo para enfrentar esta cultura machista e patriarcal são necessárias políticas públicas transversais que atuem modificando a discriminação e a incompreensão de que os Direitos das Mulheres são Direitos Humanos. Para isso é fundamental estabelecer uma articulação entre os programas dos Ministérios da Justiça, da Educação, da Saúde, do Planejamento e demais ministérios. E mais um planejamento de políticas públicas transversais só funcionará com a total participação da sociedade civil.

ANERI TAVARES - Professora, Historiadora, Consultora em Políticas Públicas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Perfil da Mulher Paraibana e a Política

A coragem, a resistência , a postura de honradez, enfim, as virtudes da mulher paraibana não é uma fonte de estudo esgotável, nem tampouco, explorada por estudiosos de comportamento humano, todavia, ainda se é percebido mundialmente, o sexo feminino, em posição secundária. Nesse blog, www.paraibamulhermacho.blogspot.com, nós vamos conhecer o cotidiano dessa mulher, valorizando a sua construção de imagem, não apenas de si própria, mas, do seu mundo, da sua capacidade de transformação, das suas habilidades de assumir responsabilidades dentro da sociedade na qual vive com resiliência. A mulher paraibana, não é de um perfil que se exija ser venerada e/ou que a sociedade institua regras de como ela deve ser ou agir. A mulher paraibana que em outros tempos, se casava com um noivo escolhido pelo pai, sem ao menos conhecê-lo, ou era raptada pelo  rapaz que amava para não casar-se com aquele, hoje, decide se casa-se ou permanece solteira para ter a rédia da sua vida pessoal e prof

Aconteceu na Princesinha do Vale “O Mais Lindo São João do Mundo”, em 2019

A Princesinha do Vale é a cidade de Olho d’Água, no Vale do Piancó, no Sertão da Paraíba Foto aérea do São João de Olho d'Água O impacto na mudança do estilo de realização do São João de Patos rendeu para a minha Princesinha do Vale, que se destacou neste ano de 2019 no meu olhar e de muitas pessoas, como “O Mais Lindo São João do Mundo” e comprovamos já na foto de capa desta matéria, onde mostramos a arte de ornamentação da nossa amiga Fernanda e discorremos essa comprovação nas demais fotos que você poderá apreciar no final da matéria. O nosso São João já é tradicional há “anos luz” quando eu, nem sabia o que era mundo e há cada anos os gestores e organizadores da festa têm se empenhado para melhor, mas, considerando os altos e baixos dos acontecimentos, o nosso São João tem evoluído e este ano ele deu um salto de qualidade na ornamentação, na efetividade, na afetividade dos reencontros e, sobretudo, na animação e alegria. O nosso Pároco Padre Erivaldo é um Pastor

EXCLUSIVA: Tarciano Wanderley usa o feriado de Corpus Christi para articular a inclusão das pessoas com deficiências no São João de Sousa

O que você está fazendo no seu feriado de Corpus Christi, Taciano Wanderley desafiou o calor e o tráfego da Rodovia Antonio Mariz que liga Patos à cidade Sorriso (Sousa) para atender à solicitação de uma moça através de um áudio, que sugeria: "...já que não tem São João na cidade de Patos, porque você não traz o Camarote 0800 para a cidade de Sousa, onde os deficientes não conseguem ver nada da festa, soltos no meio da multidão." Para quem não acompanha a vida de Tarciano Wanderley, e desconhece a sua trajetória, o Paraíba Mulher Macho, que tem a proposta de mostrar boas notícias vai esclarecer de forma resumida, como é a caminhada desse patoense nas últimas décadas. Tarciano que é paraplégico e se mobiliza sobre rodas decidiu se dedicar a facilitar a vida das pessoas com deficiência que a sua vista alcançar e iniciou esse processo transformando em rampas os possíveis degraus de acessos a ambientes públicos, na cidade de Patos e com a ajuda de amigos foi amp