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Já somos 7 bilhões; o planeta vai dar conta?


Danica May Camacho, que nasceu pouco antes da meia-noite de 30 de outubro em Manila, nas Filipinas, foi escolhida como "habitante mundial de número 7 bilhões" pela ONU, para ilustrar o crescimento demográfico mundial. Indo muito além das comemorações, esse momento simbólico exige reflexões profundas sobre a capacidade do planeta de se sustentar: "em 2100, população será de 10 bi, com dez países respondendo por metade do avanço. (...) Se, para alguns, são os países pobres que ameaçam sobrecarregar o planeta por causa de suas altas taxas de fecundidade, para outros, a principal responsabilidade é dos países ricos e seus atuais padrões de consumo. No Maláui, por exemplo, a taxa de fecundidade supera a média de seis filhos por mulher. Nos EUA, está próxima de dois. No entanto, um único americano impacta no aquecimento global o equivalente, segundo a ONG Global Footprint Network, a 11 habitantes do Maláui." - Agora somos 7 bi (Folha de S.Paulo - 30/10/2011)

Visão otimista do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE: "Existem duas boas noticias acompanhando esses números. A primeira é que a população mundial cresceu, aumentando conjuntamente a esperança de vida, que era de 48 anos no quinquênio 1950-55 e passou para 68 anos no período 2005-2010. A segunda é que o ritmo de crescimento demográfico está em declínio e existe grande probabilidade de a população mundial se estabilizar na segunda metade do século 21. (...) A mudança na estrutura etária, em geral, traz um bônus demográfico que pode ajudar na redução da pobreza no mundo. Mas essa janela de oportunidade só será aproveitada se mudar o modelo de produção e consumo que tem provocado o aumento da pegada ecológica da humanidade." - Esperança de vida sobe junto com a população, por José Eustáquio Diniz Alves (Folha de S.Paulo - 30/10/2011)

Visão pessimista de George Martine, doutor em demografia e ecologia pela Universidade Brown: "A população é diferenciada não somente por idade, sexo, tamanho, cor, residência e ocupação, mas também por níveis de renda e consumo. Precisamos de uma demografia da sustentabilidade que trate de qualificar consumidores, e não de contar pessoas equivalentes ou intercambiáveis. O que assusta mesmo é que o aumento de consumidores é muito mais rápido que o de pessoas. Movido pela cultura do consumo, o nosso modelo de desenvolvimento, eficaz e sedutor, incorpora milhões de novos consumidores anualmente. (...) Reduzir o crescimento populacional ajudaria? Pode ajudar, sem dúvida. Mas a solução fácil do "controlismo" engana, pois famílias menores tendem a consumir mais per capita."

Outro otimista: para o o demógrafo holandês Ralph Hakkert, do Fundo de População das Nações Unidas, por volta de 2050 o número vai se estabilizar em torno dos 9 bilhões. "Não só porque as mulheres terão mais acesso aos métodos contraceptivos, mas porque a África passará por um processo muito acentuado de urbanização, o que deve desencorajar a fecundidade do continente mais animado a se multiplicar", diz a entrevista com o especialista. Leia a seguir trechos selecionados:
"O que o leva a achar que a redução da fecundidade será mais rápida?

Primeiro, a urbanização. Segundo, o nível de acesso que as mulheres têm à saúde reprodutiva e aos métodos contraceptivos. Terceiro, as oportunidades que surgem para as mulheres no mercado de trabalho, o que as estimula a ter menos filhos.

Como se lida com barreiras culturais quanto ao planejamento familiar? Na África Subsaariana elas são muito fortes, não?

Sim, as pessoas na África Subsaariana querem muitos filhos porque isso é visto como fonte de riqueza. Mas isso tende a mudar. A África é o continente que terá o maior ritmo de urbanização nas próximas décadas. Isso impactará o crescimento das populações. Elas vão depender de mais atividades econômicas urbanas e as mulheres terão mais oportunidades de trabalho. Mas veja outros fatores, como a religião. Antigamente se dizia que ela favorecia a existência de famílias grandes. Contudo, os países de fecundidade mais baixa no mundo, Itália e Espanha, são predominantemente católicos. No Irã, apesar da força da cultura muçulmana, houve uma queda recente e rápida.

"Alguns analistas aplicam a essa evolução o termo bomba demográfica. O demógrafo José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, no entanto, vê no adjetivo crítica indevida, à medida que a enorme multiplicação de gente resulta de objetivos positivos fortemente perseguidos: queda da mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida (30 anos, em 1900; 69, hoje). Mas não dá para ignorar o acirramento de dificuldades atreladas ao surgimento de tantos novos consumidores." - Somos 7 bilhões, por Celso Ming (Estadão.com - 29/10/2011)

"Entre as razões para não ter planos de ter mais filhos, Beatriz aponta os custos e a dificuldade em conseguir vaga em creches. Hoje, ela paga para cuidarem dos filhos." -

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