A ex-senadora Marina Silva afirmou, em entrevista para a edição desta quarta-feira, 26, do jornal português Público, que a corrupção no Brasil não é apenas problema da presidente Dilma Rousseff e sim de todos os 195 milhões de brasileiros. De acordo com ela, os atos ilícitos na administração pública só serão derrotados por iniciativa da sociedade brasileira. "É fundamental que haja uma autoconvocação da sociedade contra a corrupção", afirmou.
A ex-senadora, que foi candidata à Presidência da República na última eleição, disse que hoje existe um "descolamento" entre a representação política e o cidadão, que por não querer mais ser um "espectador da política" tem ido às ruas para protestar. Ela citou como exemplo manifestação em Brasília, que reuniu 20 mil pessoas no dia 7 de setembro. "É um movimento da borda, é uma borda que se movimenta na tentativa de encapsular o centro", disse. "E, quando vão às praças, vão para dizer que estão tentando recolher essa representação e assumir para si esse lugar".
Marina também falou sobre sinais de falta de credibilidade da sociedade com os partidos políticos. De acordo com ela, as siglas deixaram de ser um espaço para discussão de ideias e propostas. "Não é que tenhamos de desqualificar as instituições, os partidos, só por desqualificar. É que, na maior parte, eles se foram transformando em projetos de poder pelo poder", explicou. "A juventude sente o cheiro do sonho, da esperança, daquilo que precisa de investimento, de energia, de utopia para se mover. E os partidos se tornam conservadores e estagnados, quando os jovens já não querem saber deles".
Entre os partidos "conservadores", Marina incluiu sua antiga legenda, o PT, a qual ajudou a fundar. "O PT infelizmente tornou-se um partido conservador", afirmou. "A gente se transforma em conservador quando fica fazendo malabarismo para manter o sucesso acumulado e já não se dispõe mais ao imprevisível".
A ex-senadora, requisitada para avaliar o desempenho do governo da presidente Dilma Rousseff até o momento, disse que houve avanços "importantes" no Brasil, principalmente nos assuntos de política externa. Citou o distanciamento do País com nações comandadas por ditadores e que violam direitos humanos. "Não podemos relativizar a defesa dos direitos humanos e da democracia", disse. Ela também elogiou políticas sociais comandadas pelo governo e o equilíbrio econômico. Mas criticou o que chamou de "fragilidades políticas". "A base de sustentação que a levou ao poder já a levou apropriando-se dos espaços do Estado. Os partidos são donos de nacos do Estado".
Rita Bizerra, com assessoria
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