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Alegrias e dificuldades comuns a um casamento de mais de trinta anos


Não foi tarefa fácil para Julie Gavras, cineasta francesa de origem grega, encontrar o tom de comédia romântica para abordar, em Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim, os problemas do envelhecimento no âmbito de uma família, constituída há mais de trinta anos. A diretora, que se revelou em A Culpa é do Fidel (2006), crônica bem humorada da década de sessenta na França, narrada sob a ótica de uma criança, cujos pais eram militantes da esquerda, não repete agora, lamentavelmente, a mesma verve, o mesmo frescor narrativo.

Para desenvolver o seu relato, que pretende seja cômico, de como o peso da idade afeta a vida a dois, Julie se viu forçada a se apoiar na trilha sonora de Sodi Marciszewer, ao som de uma banda estridente e de linha melódica escrachada, que não tem, para o caso, expressividade alguma. A temática do filme de estreia, baseada num livro da jornalista italiana Domitilla Calamai, tinha mais a ver com as atividades políticas do pai de Julie , o consagrado cineasta grego Costa Gavras ( Z, Desaparecido e Estado de Sítio). Essa segunda película – escrita por Julie em colaboração com Olivier Dazat e David H. Pickering -, que deve compor uma trilogia autobiográfica, é estruturada também, como não poderia deixar de ser, em sua vida familiar, mas sem o chamativo componente político.


O pai Adam (William Hurt) é um arquiteto de prestígio, que se aproxima da faixa dos sessenta anos. Premido pela situação financeira e ansioso por encontrar uma forma de rejuvenescer, pois se recusa a admitir que está ficando idoso, ele aceita – ao argumento de que Michelangelo começou a projetar a basílica de São Pedro, no Vaticano, aos 75 anos - a proposta de integrar uma equipe de jovens, já que por uma das arquitetas participantes ele se sente atraído, na elaboração de um projeto ambicioso. Trata-se de um novo museu - semelhante ao Louvre - para a cidade de Londres, onde se passa a ação.

A mãe Mary (Isabella Rossellini), por sua vez, é uma professora aposentada, modelo de esposa fiel, dedicada, companheira de Adam nos bons e nos maus momentos. Mais consciente do que o marido sobre a aproximação da velhice, ela começa a apresentar problemas de memória, o que pode ser sintoma, segundo teme, de demência. Procura um médico, que lhe recomenda uma atividade física. Ela passa a frequentar aulas de hidroginástica, onde se entusiasma, ora, ora, com as cantadas que recebe de um rapagão, dono da academia.


Os três filhos – Giulia (Kate Ashfield ), James (Aidan McArdle) e Benjamin (Luke Treadaway) -, que já saíram de casa há algum tempo e têm suas vidas resolvidas, se mostram preocupados ante o aparente distanciamento do casal, pois eles facilmente se irritam, um com o outro, quando se encontram em reuniões familiares. Temem que a separação dos dois esteja próxima, pois os dados estatísticos de pessoas idosas que se divorciam são altos, adverte James. Há ainda duas personagens - Leo (Leslie Phillips) e Charlotte (Joanna Lumley) – que, cada qual, por seu lado, alertam, prudentemente, o casal sobre o que terão eles de enfrentar pela frente.

Não fora a magia da interpretação de Isabella Rossellini, como Mary, e de William Hurt, como Adam, o filme não seguraria o interesse do espectador, pois, além de serem prosaicas demais as situações criadas pelo roteiro, a linguagem de Julie Gavras não as reveste com o pretendido sentido de comédia romântica, ou algo que o valha, entre pessoas idosas.


Isabella, além de muito bonita, está esplêndida como Mary, assumindo, com desenvoltura, as características da personagem, cautelosa na adoção de medidas – como as barras de proteção no banheiro – que podem desagradar ao marido. Hurt, por sua vez, toma a precaução de evitar que Adam, na sua crise da meia idade se torne um afoito, uma figura ridícula. É, em vista disso, que interpreta a personagem, até com certo sentido de distanciamento.

Reynaldo Domingos Ferreira


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