Uma das personagens mais polêmicas do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a conselheira Soraia Victor pode ficar impedida de votar sobre aquele que deverá ser o primeiro processo relacionado ao escândalo dos banheiros julgado na Corte. Isso porque um dos investigados no caso, Thiago Barreto Menezes, entrou com uma “arguição de suspeição” contra Soraia, alegando que ela seria inimiga de seu pai, Teodorico Menezes – ex-presidente do TCE que se afastou do cargo após ter o nome envolvido nas denúncias.
Para Thiago, a suposta “inimizade” da conselheira contra Teodorico comprometeria a imparcialidade do voto no processo dos banheiros referente a Pacajus, denunciado pelo O POVO em julho deste ano, e cuja relatora no TCE é Soraia.
Thiago é presidente da Sociedade de Proteção e Assistência à Maternidade e à Infância daquele município, que recebeu R$ 300 mil da Secretaria das Cidades para erguer 300 kits sanitários. A inspetoria do TCE constatou que houve irregularidades na construção.
A arguição de suspeição contra Soraia está sob a responsabilidade do atual presidente da Corte, conselheiro Valdomiro Távora, que encaminhou a ação para apreciação do Ministério Público de Contas (MPC). “Eu já tenho uma opinião, mas vou esperar o parecer do Ministério Público, para ficar mais resguardado e tornar a situação mais transparente”, argumentou Valdomiro.
A expectativa é que o MPC se manifeste até sexta-feira. Só depois, na terça da semana que vem, o caso segue para o Plenário do TCE, onde todos os conselheiros votarão sobre a suspeição, ou não, de Soraia.
Conforme explicou o presidente do Tribunal, o questionamento de Thiago refere-se apenas ao caso de Pacajus – sem influenciar a apreciação dos casos nos mais de 50 outros municípios que aparecem no escândalo dos banheiros.
Até que a arguição seja julgada pelo Pleno, Soraia fica impedida de apresentar seu relatório sobre o escândalo em Pacajus. O processo está pronto para ser julgado há cerca de três semanas, mas a votação vem sendo adiada por causa do impasse sobre a suspeição.
Sem comentários
Os conselheiros ouvidos pelo O POVO evitaram fazer comentários sobre a iniciativa do filho de Teodorico, alegando não poderem adiantar o voto antes de o assunto entrar na pauta do Pleno.
Perguntada sobre a suposta inimizade contra Teodorico e os efeitos disso em sua decisão sobre Pacajus, Soraia Victor disse apenas que não conhecia os termos da arguição apresentada por Thiago e que, por isso, ainda não poderia se defender ou se manifestar sobre o caso.
SERVIÇO
Tribunal de Contas do Estado do Ceará - TCE
Telefone:(85)3488.5900
Site: www.tce.ce.gov.br
Entenda o caso
Vários embates no TCE já foram protagonizados entre Soraia Victor e outros conselheiros. O mal estar começou em 2009, quando, em entrevista ao O POVO, ela criticou a suposta falta de critérios técnicos em algumas votações da Corte.
As declarações provocaram forte reação dos “colegas” de Plenário, que, na sessão seguinte, chegaram a gritar e a bater na mesa enquanto disparavam contra as críticas de Soraia. Alguns até se retiraram da sala do Pleno quando ela tomava a palavra.
Esse e outros episódios geraram um clima tenso na Corte. Em nova crise em 2010, ao reclamar por não ter sido informada sobre uma reunião, Soraia ouviu do então presidente Teodorico Menezes que ela jamais seria chamada para qualquer reunião em seu gabinete.
Soraia mostrou-se crítica à gestão de Teodorico, encerrada este ano com o envolvimento do nome dele nas denúncias do escândalo dos banheiros. Por outro lado, Teodorico também não costumava esconder o desafeto contra a conselheira, ao lançar críticas contra a suposta postura “radical” da colega.
O conselheiro mais antigo na Corte atualmente, Alexandre Figueiredo, preferiu não avaliar a situação. Entretanto, ele afirmou que, na votação da arguição de suspeição contra Soraia, ele se declarará “suspeito”, por ter relação de amizade com Teodorico e seus familiares.
De acordo com Figueiredo, que está há 16 anos no posto, este é o primeiro episódio de arguição externa de suspeição contra um conselheiro.
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