Só neste ano, foram 8.909 casos de mulheres vítimas de violência. O medo favorece o agressor e impede a obtenção de estatísticas fieis à realidade. Hoje é o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher
“Ele me bateu tanto, me violentou tanto que a doutora disse que vou precisar fazer uma cirurgia de períneo”, resume a mulher de 44 anos, ao ser perguntada acerca da violência que sofrera do companheiro. Com indignação, ela conta as surras que levava quando, quase diariamente, o marido chegava bêbado em casa.
Foi morar com ele aos 24 anos, depois da desilusão do primeiro casamento. Hoje, luta para se desvencilhar das constantes ameaças que ainda sofre do segundo companheiro, com quem passou 20 anos. “Meus filhos não estão indo para escola, não posso trabalhar, fico mudando de casa, com medo de ele mandar alguém me matar”.
A história tem rosto e nome específicos, mas poderia sobrescrever assinaturas de um sem número de mulheres, de acordo com a titular adjunta da Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza, Yamara Lavour. Hoje, data-se o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher e pouco se tem para celebrar.
Só neste ano, até 31 de outubro, na Capital, foram 8.909 boletins de ocorrências (BOs) registrados. Yamara diz que vem crescendo muito as agressões vindas de filhos e irmãos. A maioria como consequência do uso de drogas. Segundo a delegada, as estatísticas são subnotificadas, principalmente, por medo. “A maioria só denuncia depois de muito tempo sofrendo. Às vezes, são os vizinhos e os familiares que vêm denunciar”.
O risco da morte é o que mais alerta a maioria das mulheres, conforme explica a delegada e se confirma no depoimento da mulher que foge, sem culpa, do ex-companheiro. “Só quando ele tentou me matar com seis tiros, decidi dar um basta naquele terror em que eu vivia”.
Nas palavras dela se veste também a angústia da jovem de 26 anos, que correu o risco de ser queimada viva pelo marido. “Fui morar com ele aos 12 anos. Ficamos 13 anos casados. No início foi bom, mas o ciúme dele acabou com tudo. Só quando me vi prestes a morrer, foi que senti que precisava lutar”. Agora, afastada, ela sofre com a perseguição doentia dele.
É preciso denunciar
O Observatório da Violência contra a Mulher alerta que a necessidade de denunciar se faz urgente em um contexto cultural de machismo e impunidade. “Se não denunciar, nunca vamos conseguir acabar com essa realidade triste”, orienta a coordenadora, Helena de Paulo Frota.
Mesmo sabendo que pode sofrer coação do ex-marido, a jovem de 26 anos concorda com Helena. “A melhor coisa que eu fiz foi denunciar. Você precisa pensar em você, nos seus filhos. Não denunciar só o protege. Tenho medo, mas agora a Justiça sabe dos meus riscos e tenho mais chances de ser protegida”
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