O lançamento do livro "Ruth Cardoso: Obra Reunida", organizado por Teresa Caldeira, professora na Universidade Berkeley (EUA), representa uma oportunidade de divulgar a obra dessa intelectual e feminista, que insistia em se manter autônoma e apartidária. "Um dos seus primeiros atos como primeira-dama foi levar para Brasília antigas companheiras da batalha feminista para fortalecer o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, estrutura básica da Secretaria de Políticas para as Mulheres, criada em 2003." Aliás, tornar-se "primeira-dama" acabou ofuscando, aos olhos do público, "sua história de acadêmica rigorosa, professora dedicada, feminista e intelectual moderna e heterodoxa".
"Ruth foi uma feminista de primeira hora, incentivadora de outros movimentos sociais emergentes nos anos 1970, nascidos entre descendentes de escravos, favelados e homossexuais, sem medo de provocar os conservadores, mesmo quando assumiu - contra sua vontade - a condição de primeira-dama do Brasil."
"O volume é o resultado de três anos de trabalho de uma equipe de mais de uma dezena de pessoas que digitalizou todo o material, cotejou diferentes versões e manuscritos, traduziu textos e verificou notas de rodapé e citações."
"Em A Mulher e a Democracia, um dos textos selecionados por Teresa Caldeira para o livro, ela afirma que o processo de democratização da sociedade passa necessariamente pela ideia da igualdade entre os sexos. A luta por uma relação simétrica entre homens e mulheres, defendia a antropóloga, não se dava na porta dos sindicatos nem nas sedes de partidos, formas rotineiras (e manipuladoras) de fazer política, segundo ela. A dificuldade para as mulheres penetrarem nesse mundo, escreve, eram enormes - pelo menos eram quando o texto foi produzido, em 1987 - e por isso o movimento feminista teria um caráter exemplar entre todos os outros nascidos depois do histórico Maio de 1968."
"Ela também integrou a Frente de Mulheres Feministas, fundada em 79 e da qual faziam parte Ruth Escobar e Eva Blay, entre outras. E contribuiu para levar o debate do feminismo para a academia. De 1981 a 1985 foi membro do conselho editorial da publicação feminista Mulherio, em São Paulo."
"Acho que ela produzia curtos-circuitos, era uma provocadora", lembra a ex-aluna Esther Hamburger, professora na USP. "Resolveu falar de TV quando ninguém falava disso na academia."
Quando se tornou primeira-dama, previu a mudança em sua rotina. "Aí inventou um jeito de continuar seu trabalho: o Comunidade Solidária", diz Hamburger.
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