A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) vai passar a rastrear todas as mulheres que implantam próteses de silicone nas mamas por meio de um cadastro nacional que entrará em vigor neste mês. A ferramenta, chamada Cadastro Nacional de Implantes Mamários (CNIM), é uma iniciativa inédita da própria sociedade de médicos e não envolve órgãos do governo. O objetivo é ter uma ferramenta que mapeie de maneira eficaz todas as mulheres que colocaram ou retiraram próteses, incluindo numeração, marca e os motivos do implante.
Segundo a cirurgiã Wanda Elizabeth Correa, presidente da Comissão de Silicone da SBCP, o projeto começou a ser planejado há cerca de oito anos e ganhou fôlego em 2004, após um surto de contaminação por bactérias em mulheres que haviam implantado silicone na região de Campinas (veja ao lado). Assim como hoje, naquela época, não havia um cadastro unificado, o que dificultou a localização de mulheres que poderiam ter problemas.
“Esse é um projeto antigo. Foram anos de trabalho, de pesquisa e de projetos para definir o protocolo. Já contratamos a empresa responsável e, agora, estamos na fase de cadastramento dos médicos”, diz. Segundo Wanda, a sociedade de cirurgia plástica forneceu à empresa o banco de dados com os nomes de todos os cirurgiões para que eles sejam cadastrados. Assim que terminar o cadastramento, os médicos já poderão começar a alimentar o programa com dados das pacientes.
Segundo Wanda, assim que aplicarem um implante, os cirurgiões terão de inserir os dados no cadastro. Mas essas informações serão mantidas em sigilo. Para ter acesso ao sistema, o médico terá de usar uma senha e será identificado por um número. Ele não conseguirá ver dados das outras mulheres nem de outros médicos, mas verá dados gerais.
“Se não fosse dessa maneira, os médicos não informariam. Ninguém quer tornar público o número de próteses que implanta”, diz Wanda. Segundo ela, a sociedade tem cerca de 5 mil cirurgiões plásticos cadastrados e, se todos preencherem os dados corretamente, essa será a forma mais fiel de rastrear as próteses no Brasil.
O cadastro nacional começará a funcionar num momento em que o País enfrenta problemas envolvendo a prótese de silicone da marca francesa Poly Implant Protheses (PIP) e não sabe exatamente quem são as mulheres que as usam. “Se esse cadastro já estivesse funcionando há alguns anos, seria mais fácil saber onde estão as mulheres que usam o implante PIP para chamá-las para uma reavaliação.”
As próteses PIP tiveram a venda suspensa no País em 2010, pois descobriu-se que foram fabricadas com silicone industrial, impróprio para uso médico. Elas apresentavam taxa de ruptura até cinco vezes maior do que a de outras marcas.
Para tentar rastreá-las e poder fazer um serviço de vigilância, a Anvisa teve de recorrer à empresa importadora. O objetivo é descobrir em que cidades as próteses foram compradas e, assim, pedir que clínicas e hospitais identifiquem as pacientes para que sejam acompanhadas adequadamente.
Até o momento, sabe-se que ao menos 12 mulheres fizeram queixas na Anvisa relatando problemas com a PIP. O mapeamento completo deverá ser informado pela agência na quarta-feira, após uma reunião com entidades médicas.
Rita Bizerra, com Estadão
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