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A República das mulheres

18/03/2012
 Por Inaldo Leitão

Ficou nos escaninhos da história o tempo em que a mulher brasileira não escolhia o marido, não podia lecionar, não votava, era condenada ao trabalho doméstico e sequer podia ter opinião. A mudança veio mais intensamente com o advento do Código Eleitoral de 1933, quando a mulher adquiriu o direito ao voto. A partir daí vieram outras conquistas que colocaram a mulher numa situação de igualdade com os homens, tanto no campo dos direitos civis quanto trabalhista. É certo que ainda há caminhos a percorrer, mas não há como negar que os avanços ocorridos nos últimos 77 anos foram significativos.

Tanto que, fruto desse processo histórico, o Brasil tem hoje 10% de representação feminina no Congresso e a primeira mulher na presidência da República. Quando o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva iniciou as articulações para a candidatura de Dilma Rousselff, as reações foram do deboche à descrença. Durona, mais afeita às tarefas de gestão como Chefe da Casa Civil e sem ter disputado uma única eleição, Dilma tinha tudo para não decolar como candidata – na opinião dos próprios aliados. E a oposição? Ora, ficou eufórica. Tanto que José Serra abriu mão de dois anos de mandato do governo de São Paulo para disputar uma eleição que considerava líquida e certa. Deu no que deu.

Sentada na principal cadeira do Palácio do Planalto, a presidenta estruturou uma equipe de comando que tem como critério de escolha o sexo. Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento) e Ideli Salvati (Relações Institucionais) formam o núcleo duro do governo. Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Políticas para Mulheres), secretárias com status de ministras, compõem um elenco que conta com inúmeras outras mulheres espalhadas pela Esplanada dos Ministérios e funcionam como um ‘freio’ na atuação dos ministros, monitorando as ações e interagindo diretamente com Dilma. E vem mais, a exemplo de Marta do Amaral Azevedo, que será a primeira mulher a presidir a Funai.

Um governo vai bem quando a economia funciona e a área política está pacificada. O Brasil segue firme no primeiro tema, embora haja uma ameaça de crise vinda da Europa e dos Estados Unidos (quem diria!). Mas o fato é que a crise não aportou por aqui e mesmo o encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,7% em 2011 ainda não sinaliza na direção de um desmantelamento da economia. Já na seara política, a relação do Executivo com o Congresso nunca foi tão azeda nestes mais de nove anos de governo petista. Lula enfrentou crises, como a do tal mensalão, mas sempre conseguiu acalmar os parlamentares e manter o controle da situação.

Não é o que ocorre agora. PMDB, PDT, PR e PTB, só para falar nos mais robustos, desfiam críticas diárias ao modus operandi do governo e ameaçam até mesmo romper. Há até petistas insatisfeitos que, a ouvidos ultra-reservados, acusam a presidenta de não ser exatamente uma petista (ela era filiada ao PDT antes de ser nomeada por Lula). As queixas dos parlamentares concentram-se nas nomeações para cargos e liberação de emendas do orçamento. São reclamações comuns em qualquer governo, mas nunca se viu em um tom mais elevado como no governo Dilma. Com efeito, é nestes tempos turbulentos que uma vítima aparece.

E ela apareceu: a ministra Ideli Salvati, ex-senadora, responsável pela interlocução com o Congresso e acusada de ser intolerante, pouco habilidosa e falastrona. Mas há uma acusação implícita – é mulher. Para não brigar com a Presidente austera, esticando demais a corda, é mais estratégico peitar sua emissária e jogar nela toda a culpa pelos desacertos na relação política. Olhando esse cenário aqui da planície, a impressão que tenho é que há um certo componente machista inspirando este confronto. Uma prova? Até o presidente do Senado José Sarney viajou a São Bernardo do Campo para pedir a Lula que interferisse na contenda. Em 123 anos de República dominada pelos homens, não é fácil aceitar que uma mulher dite as regras do jogo.

É verdade que no nosso modelo presidencialista não há possibilidade de o governo ser bem sucedido sem construir uma sólida base de apoio parlamentar. Também é induvidoso que os partidos, ao apoiarem um candidato presidencial, possam apresentar suas demandas, desde que legítimas, e ocupem espaços nos órgãos governamentais, de forma a contribuir com a execução de políticas públicas. Mas é papel da presidenta estabelecer limites éticos, ser rigorosa na escolha de seus auxiliares e ter o seu próprio jeito de governar. Sem isto, a presidenta não teria a popularidade atual, perderia as rédeas da governabilidade e ficaria sem chances de renovar o mandato em 2014. Para contornar a crise, só há um jeito: todos precisam ceder.

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