Elas plantam, aram, cuidam, colhem, preparam e administram com carinho o produto que alimenta a família. Pelas mãos da mulher passam o sustento e a renda dos assentados da reforma agrária.
Segundo o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), autarquia ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), mais de um milhão de famílias vivem em assentamentos no Brasil. Nesses lares é comum encontrar mulheres que, além de administrar a casa e o cultivo de alimentos, desenvolvem atividades em alguma forma de organização produtiva.
Aos 45 anos, Adelina da Rosa, por exemplo, se descobriu artesã. Por meio de cursos de bordado, crochê e renda oferecidos pela assistência técnica da Emater/RS na região do Médio Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul, onde mora, a assentada aprendeu técnicas que se tornaram fonte extra de renda para a família.
Hoje, aos 58 anos, Adelina faz parte do Grupo Arte e Cultura, formado por 17 mulheres dos projetos de assentamento Novo Gramado e Trindade, vendendo produtos em feiras e propriedades dos municípios de Gramado dos Loureiros e Trindade do Sul (RS).
“É um orgulho muito grande ver o resultado do nosso trabalho. Começou como um curso, mas hoje é quase uma terapia”, comemora Adelina, que também trabalha na lavoura com o marido e os filhos. Criado há 13 anos, o grupo se destacou em setembro de 2012, após adquirir recursos do Apoio Mulher, modalidade de crédito oferecida pelo Incra.
Com o valor, foram adquiridas 16 máquinas de costura, além de matéria-prima para a confecção das peças. “A essência do trabalho é artesanal, mas as máquinas auxiliam muito em outras etapas de produção”, explica Adelina.
Crédito
“O Apoio Mulher é uma modalidade de crédito específica para mulheres assentadas, que tem como objetivo apoiar a atividade produtiva desempenhada por elas. O crédito começou com R$ 2,4 mil e, em 2010, teve um acréscimo, totalizando R$ 3 mil para cada assentada do grupo”, explica a diretora de Políticas para Mulheres Rurais do MDA, Karla Hora.
O objetivo é alavancar o desenvolvimento econômico das assentadas da reforma agrária e serve tanto para implantar uma produção como para melhorá-la. Para receber o crédito, a mulher tem que ser titular do lote da reforma agrária e estar organizada em grupos de, no mínimo, três assentadas.
Incra e MDA desenvolvem uma série de ações para potencializar essa política. Em 2003 foi instituído o processo de titulação conjunta obrigatória, reconhecendo as mulheres como titulares dos lotes da reforma agrária. Em 2007, houve uma mudança nos normativos do Incra para acesso à terra, dando preferência para as chefes de família.
“As mulheres têm um importante papel na reforma agrária. Elas desenvolvem atividades produtivas que garantem a soberania alimentar da família e contribuem na sua autonomia, tanto do ponto de vista financeiro como social”, afirma Karla Hora.
Retorno
Para o Grupo Arte e Cultura, a proximidade facilitou a comunicação e o desenvolvimento de atividades em parceria entre as mulheres. Separados somente por um pequeno riacho, os assentamentos ocupam uma área de 600 hectares, cada.
Com o desenvolvimento do projeto, algumas mulheres repensaram a ideia de deixar sua propriedade em busca de emprego nas cidades vizinhas e enxergaram na atividade uma oportunidade de ter renda igual ou superior com o artesanato, sem sair de casa.
A história de Leandra da Rosa, filha da assentada Adelina, retrata esse processo. Hoje artesã do mesmo projeto da mãe, Leandra preferiu deixar a zona urbana onde vivia para trabalhar com o grupo. “Antes eu trabalhava em uma fábrica de costura em Blumenau (SC). Aqui, eu tenho mais tempo para ficar com meu filho e poder estudar”, conta a artesã.
Leandra hoje faz um curso de Técnica em Agroindústria a distância na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Desde 2011, o grupo participa da Expodireto, feira agropecuária anual no município de Não Me Toque (RS). Tudo o que é produzido é comercializado com facilidade.
Fonte: www.mda.gov.br
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