Entre surpreso e indignado ouvi há algum tempo atrás, num evento do qual participava, uma autoridade do governo federal fazer uma declaração que chocou a platéia, gerando descontentamentos por considerá-la ofensiva à mulher paraibana, que se fazia presente majoritariamente no auditório. Esse palestrante, de forma jocosa, ao se referir aos processos de requerimento de pensão previdenciária feita por pessoas que convivem com outras do mesmo sexo, informou, entre sorrisos de galhofa, que os primeiros processos encaminhados foram, “coincidentemente”, por gaúchos e paraibanas, querendo estereotipar os homens do Rio Grande do Sul e as mulheres da Paraíba como homossexuais. Foi uma infeliz brincadeira.
Na verdade o comportamento dessa autoridade reflete um pensamento estigmatizado que se faz da mulher paraibana, a nível nacional, em razão da malícia popular, que tomando ao pé-da-letra a expressão do refrão da música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, “A Paraíba”, masculinizou a imagem da mulher paraibana. “Paraíba, masculina/Muié macho, sim sinhô” é o verso cantado na música de Luiz Gonzaga, que fez sucesso nacional, na voz de Emilinha Borba, uma das rainhas do rádio, e repercutiu pejorativamente contra as paraibanas, vinculando o nome PARAíBA ao homossexualismo feminino.
Apesar disso não justificar a grosseira colocação do palestrante, há de se reconhecer que essa música tem contribuído para que país afora as pessoas pensem como ele. Daí, a necessidade de se explicar bem o verdadeiro sentido da expressão de Luiz Gonzaga na sua famosa música.
Gonzaga se inspirou na coragem da Paraíba, que ao lado do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, formaram a Aliança.
Gonzaga teria composto essa música por encomenda quando da candidatura de Zé Américo ao governo do estado, originariamente como “jingle” de campanha, mas que provocou forte reação do público presente em um comício, porque foi considerada um insulto à mulher paraibana.
Liberal em 1930, movimento que tinha Getúlio Vargas como candidato a Presidente e João Pessoa como candidato a Vice, contrária às forças políticas situacionistas que levaram Júlio Prestes a se eleger Presidente da República. Isso foi o embrião que deflagrou a Revolução de 30 que mudou o curso da nossa história. Procurava o nosso grande compositor enfatizar o posicionamento do Estado, aí tratado no gênero feminino porque era “a Paraíba”, quando a cidade de Princesa Isabel, chefiada por Zé Pereira, declarou-se território livre e resistiu às tropas do governador Álvaro Pereira. Foram duas demonstrações de coragem atribuídas à Paraíba, tanto de João Pessoa, quanto de Zé Pereira, que levaram Gonzaga a ressaltar a nossa bravura e coragem, por isso colocando “Paraíba, masculina/muié macho, sim sinhô”. Nada em referência à preferência sexual da mulher paraibana.
É preciso que façamos uma campanha de esclarecimento a nível nacional, procurando desfazer essa imagem negativa da mulher da Paraíba, que não fica nada a dever às brasileiras de qualquer região, por sua beleza, graça e charme.
Diria até que devemos divulgar mais a música de Genival Macedo, “Meu sublime torrão”, que desde 1973 é oficialmente o hino popular da nossa capital, quando em um dos versos diz:
“ Não tem a fama da baiana, mas a paraibana sabe amar, tem sedução.
Paraíba hospitaleira, morena brasileira do meu coração”.
Tenho orgulho da mulher paraibana, não só por serem belas esteticamente, mas por sua garra, determinação, inteligência, coragem. Espero nunca mais testemunhar um acontecimento tão degradante quanto o que fiz referência acima.
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