Em um discurso emocionado e interrompido pelo choro mais de uma vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de "facínoras" aqueles que "levantaram leviandades" contra a mulher --ré, ao lado dele, em processos da Operação Lava Jato.
"Marisa morreu triste porque a canalhice, a leviandade e a maldade que fizeram com ela...", disse Lula, que discursou por aproximadamente 20 minutos. "Acho que ainda vou viver muito, porque quero provar para os facínoras...que eles tenham um dia a humildade de pedir desculpas a essa mulher."
"Esse homem que está enterrando sua mulher hoje não tem medo de ser preso", afirmou o ex-presidente. "Descanse em paz, Marisa. O seu 'Lulinha Paz e Amor' vai ficar aqui para brigar por você."
O discurso marcou o encerramento do velório por volta das 15h30. Por lá, passaram 20 mil pessoas, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A Polícia Militar não fez estimativa de público.
Após a fala de Lula, foi pedido ao público presente que se retirasse para que os familiares e amigos se despedissem de Marisa Letícia com privacidade. O corpo foi cremado no cemitério Jardim da Colina, em cerimônia reservada à família.
Pé de frango no Alvorada
Lula rememorou casos dos mais de 40 anos em que estava casado com Marisa Letícia --dos jantares no Palácio do Alvorada às viagens oficiais, à época em que Lula ocupava a Presidência (2003-2006/2007-2010).
Em uma dessas ocasiões, citou, a então primeira-dama teve um ataque de risos, enquanto comia, ao conjecturar, com o marido, que dificilmente cozinheiros e garçons do palácio teriam, em alguma outra oportunidade, comido pé de frango.
"Ela criou os filhos praticamente sozinha. Ela foi mãe, foi pai, foi tia, foi avó, foi tudo. E ela nunca reclamou da vida", disse emocionado o ex-presidente.
Ré na Lava Jato
Dona Marisa era ré em uma ação penal, junto com o marido, na Operação Lava Jato. Eles respondem pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht.
Segundo o Ministério Público, Lula recebeu propina da empreiteira Odebrecht por intermédio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que também virou réu na ação, ao lado do empreiteiro Marcelo Odebrecht, e outras cinco pessoas.
De acordo com a investigação, o dinheiro foi usado para comprar um terreno, que seria usado para a construção de uma sede do Instituto Lula (R$ 12,4 milhões), e um apartamento em frente ao que mora em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo (R$ 504 mil).
A defesa de Lula informou que o ex-presidente aluga o apartamento vizinho ao seu. Além disso, acrescentou que o Instituto Lula funciona no mesmo local há anos e que o petista nunca foi proprietário do terreno em questão.
Segundo os advogados do ex-presidente, a transação seria um "delírio acusatório".
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