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'A sociedade tolera, não respeita', diz professora que luta contra lesbofobia



Ângela Chaves é ativista por direitos das mulheres na Paraíba há 20 anos. Grupo Maria Quitéria combate a lesbofobia desde 2009


Ser mulher é sinônimo de luta para a professora  Ângela Chaves. Militante do Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quitéria desde 2009 e ativista dos direitos das mulheres na Paraíba há cerca de 20 anos, ela conhece a realidade de quem sofre preconceito diariamente e sabe bem a dificuldade que é combater à violência de gênero. A professora compreende que a estrada ainda é longa e tortuosa, e por isso, acredita que o melhor caminho é a união entre as mulheres.



“As primeiras a serem penalizadas são sempre as mulheres e em vários setores da vida. É por isso que estamos sempre na luta. Independente de orientação sexual, somos todas mulheres e somos todas discriminadas, por isso, precisamos nos unir, como mulheres que somos”, destacou.


Ângela Chaves começou a militar em 1998, quando fez parte do movimento internacional Marcha Mundial das Mulheres. Depois passou a se dedicar à luta do movimento de mulheres lésbicas e integrar o grupo Maria Quitéria. Além disso, foi por seis anos coordenadora do Centro de Referência dos Direitos LGBT e de Combate à Homofobia (Espaço LGBT), em João Pessoa.



Casada há quase dois anos e mãe de um adolescente de 16 anos e uma jovem de 19, 


Ângela conta que sua família se resume praticamente a estas três pessoas. Isto porque uma grande parte da família sequer fala com ela, devido à sua orientação sexual e também à militância, algo que a professora diz não fazer diferença.



Na minha vida, a questão de ser lésbica sempre afetou. Por exemplo, pouquíssimas pessoas da minha família falam comigo, então eu não faço questão, só com aqueles que falam comigo. Eu tenho primas que me respeitam, que acham que eu dei minha cara para bater, não só por ser lésbica, mas por ser mulher e feminista. Eu defendo várias pautas e isso afetou a minha família, que é muito tradicional e fundamentalista. Mas eu não quis segui-los porque minha luta é pelo coletivo”, afirmou.



Com 53 anos de idade, este é o segundo casamento da professora Ângela Chaves com uma mulher. O anterior durou sete anos de união. Entretanto, este é o primeiro celebrado em cartório.



A união homoafetiva é possível no Brasil desde 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a equiparação da união homossexual à heterossexual. E dois anos depois, em 2013, por meio da resolução 175, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), decidiu que cartórios de todo o país não poderiam se recusar a celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.



“Desta vez colocamos no papel porque podíamos casar e já que lutamos tanto por este direito, resolvemos fazer. Eu acho que hoje, apesar de termos uma conjuntura difícil, de preconceito, de ódio, é mais fácil viver. Mas ainda tem muito pelo que lutar. Eu vejo que a sociedade tolera apenas, não respeita a gente e não aceita. Ela tolera as mulheres lésbicas, assim como os homens gays. Ainda é pior para as mulheres travestis e as transexuais, que sofrem muito mais do que a gente”, disparou.



Visibilidade lésbica e combate a lesbofobia



Uma das principais bandeiras do Grupo Maria Quitéria é o combate à lesbofobia, um termo que define o preconceito direcionado às mulheres lésbicas e a violência específica sofrida por elas. De acordo com Ângela, as mulheres lésbicas sofrem as mesmas dificuldades que a mulher heterossexual, com um adicional: o preconceito por causa da orientação sexual.



“Quando uma mulher se diz lésbica, todo mundo olha diferente para ela, como se fosse de outro planeta. Isto interfere em suas vidas. Quantas mulheres jovens lésbicas não pensaram em se matar quando se descobriram? Elas sabem que vão enfrentar uma grande dificuldade na sociedade e na família. A primeira coisa que a gente pensa é na família, se vai nos aceitar ou não”, explicou.



Ângela ainda lembrou que muitos casos de violência contra lésbicas são de violência sexual, a exemplo dos chamados “estupros corretivos”, que seguem uma lógica na qual o homem tem autoridade sobre o corpo da mulher para curá-la da lesbianidade. Segundo disse a ativista, em algumas situações mais graves, o estupro corretivo acabou se tornando estupro coletivo: “Este é um fato muito triste. Na cabeça de quem faz, isto vai fazer com que a mulher ‘volte a ser hétero’. Uma coisa que não acontece”.



Uma das formas de lutar contra este e outros tipos de violência por parte do movimento, é no combate ao estereótipo, que envolve a quebra de padrões e a busca pelo o que o segmento denomina visibilidade lésbica. Inclusive, desde o ano de 1996, existe o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, comemorado em 29 de agosto, e tem por objetivo o combate ao preconceito destinado ao grupo.



Para isso, existe um engajamento do movimento com órgãos do setor público, como conselhos municipais e estaduais de saúde e educação. Além disso, o grupo Maria Quitéria participa de atos, protestos, e ainda tem parcerias com o Núcleo de Extensão Popular (NEP) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).



“Somos convidadas muitas vezes para dar formação na questão de educação e saúde. Mas é preciso mais do que isso. Precisamos desenvolver políticas sociais para o nosso público e também mudar a mentalidade da sociedade, começando com o próprio segmento. É necessário eleger políticos comprometidos com a causa, mas o próprio segmento não vota em pessoas LGBTs. Por isso, enquanto eles continuarem votando em pessoas que não lutam pelos nossos direitos, vamos sofrer muito mais e morrer muito mais ainda”, apontou.


Machismo no movimento



Apesar de toda a luta, há problemas que começam dentro do próprio movimento, como o machismo. Algo que Ângela Chaves já viu de perto e ainda vê com frequência. Seja nas relações entre homens trans e suas namoradas e até mesmo entre as lésbicas. O que para o professor de direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), José Neto, é um problema grave e que ainda deve perdurar por muito tempo.



Com uma carreira acadêmica voltada para esta questão, José Neto explica que os relatos de machismo no movimento são recorrentes. Isto porque na UEPB, o professor coordena o Grupo de Pesquisa em Diversidade Sexual e Questões de Gênero, no campus de Guarabira. Já na UFPB, o professor é vice-coordenador do Grupo de Trabalho sobre Diversidade Sexual e Gênero do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos (NCDH).



“Infelizmente presenciei e já ouvi muito falar sobre o machismo no movimento. É algo que se explica porque a nossa cultura é uma cultura machista. Não significa que porque você é gay que não vai ser machista. Todos somos machistas. E isto é um problema para o movimento. Ainda tem muita coisa para ser desconstruída e o caminho é o do enfrentamento e da educação para mostrar os problemas do machismo e da misoginia na nossa sociedade”, concluiu.

Da Redação com G1PB



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